É preciso enxergar a real capacidade de cada criança para explorar novas possibilidades de aprendizado e fazer adaptações necessárias
Um dos grandes desafios do ano passado para as mães era manter a mente sã, o trabalho bem feito e a educação remota em casa. Mas alguns pontos ficaram mais evidentes para quem acompanha o dia a dia das aulas on-line. Será que o meu filho consegue mesmo fazer essa atividade? Percebo que ele está com dificuldade em tal matéria e por aí vai.
No meio da inclusão, algo é bem evidente: a idade de desenvolvimento da criança quase nunca acompanha a idade cronológica e é um fator que preocupa muito os pais de crianças típicas, sem nenhum tipo de necessidade especial.
A deficiência intelectual ou também chamada de deficiência cognitiva é um rótulo que abrange um enorme espectro de possibilidades e define erroneamente algumas crianças como “doentes mentais”. Ter um certo atraso não é sinônimo de que ela não vá aprender. Pode levar tempo e dedicação, mas acreditar que não é possível é um erro grave. E é aqui que entram as adaptações nas atividades curriculares.
Dei a sorte de o meu filho estar matriculado em uma escola onde qualquer dificuldade ou atraso é tratado individualmente e trabalhado com intensidade. Por isso, a escola que é para alunos típicos – os chamados normais – é referência de acolhimento de crianças especiais. Lá, eles são tratados igualmente, desafiados igualmente e com oportunidades de aprender na mesma época que os alunos convencionais. Aprendem a ler na mesma idade, por exemplo.
A escola do meu filho condiciona bem o famoso AEIOU da Educação (Análise, Empatia, Interação, Organização e Ultrapassar barreiras) e tem quase 10% de alunos com algum tipo de necessidade especial. A direção e o corpo docente conhecem bem cada aluno em vários aspectos, entendem e respeitam os sentimentos do outro, interagem eficientemente, organizam o método e a estratégia com planejamento e ultrapassam os desafios que surgem.
A idade cronológica não é a mesma do desenvolvimento, mas ele tem ido muito bem. Durante a pandemia, as apostilas da escola foram adaptadas individualmente apenas nas atividades mais complexas, como matemática por exemplo, e a equipe multidisciplinar de inclusão do colégio trabalha para que ele alcance as metas e os objetivos propostos para a turma.
Acho importante o olhar que a escola tem para o desenvolvimento do meu filho e o trabalho que faz para chegar mais longe. No entanto, fico horrorizada com pais que querem que seus filhos sejam perfeitos em tudo, notas altas, elogios e não olham para dentro deles e enxergam alguma dificuldade. Em algum momento da vida dele, a idade do desenvolvimento sobre alguma matéria pode estar aquém da idade cronológica e uma certa disciplina pode traumatizar a criança. O fato é que, sendo ou não especial (não sou fã desse termo), é necessário procurar apoio da instituição para saber exatamente o que fazer quando esse dilema ocorre e ajudar o aluno a progredir no que tem dificuldade, seja ele cognitivo, social, motor etc.
Em 2020, percebi em casa que várias atividades das apostilas da escola nem precisavam ter sido adaptadas, mas, como a professora e a coordenação não o acompanhavam pessoalmente, essa percepção ficou mais complicada. Por isso, busquei apoio da escola para que houvesse um equilíbrio e ele pudesse fazer lições da mesma forma que outro coleguinha da sala faria.
Em 2020, Breno teve um ganho notável de aprendizado por ser um menino de 6 anos com Síndrome de Down. Já sabe ler todas as letras do alfabeto, inclusive K, W e Y e sai lendo na rua e me chamando para soletrar as palavras. Agora, com a equipe de psicopedagogas, ele tem tido ganhos ainda maiores e tem aprendido as sílabas.
Cada aluno sempre será único, tendo ou não deficiência. A criança com atraso cognitivo também é única e exige de nós pais e dos professores uma mente aberta para explorar novas possibilidades de aprendizado. Quando paramos de ver o outro como um deficiente e o olhamos apenas como mais uma criança, podemos enxergar o potencial dela e trocar o preconceito pela curiosidade de descobrir um mundo bem interessante.