Como ensinar as crianças sobre morte e luto?

Tão importante quanto falar sobre morte é entender como a criança sente e entende o luto em cada idade
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luto
Imagem: Canva

A partida precoce do ator Paulo Gustavo, assim como a morte repentina de Tom Veiga – que dava vida ao louro José – trouxeram luz a um dilema enfrentado por muitas famílias: como falar sobre morte com as crianças?

Ainda que seja uma situação triste e desconfortável, é essencial transmitir aos pequenos a naturalidade desse momento, que faz parte do ciclo da vida. “A conversa deveria tomar lugar de forma natural, gradual e ilustrativa e não apenas mediante o evento em si”, diz Dra. Francielle Tosatti, pediatra especialista em emergências pediátricas pelo Instituto Israelita Albert Einstein.

Dra. Francielle lembra que a maioria das crianças já teve, de certa forma, algum contato com a morte no dia a dia, ao ver um inseto morto, uma flor murcha ou assistir filmes como Rei Leão, Bambi e Frozen, entre outros.

A pandemia deixou o tema mais próximo e palpável por conta das informações na mídia e mortes próximas às famílias. “Por isso, tão importante quanto falar sobre morte é entender que a criança sente o luto, de acordo com sua idade e maturidade e cada criança irá reagir de uma forma à ausência, ao clima da casa e às emoções dos familiares”, explica a pediatra.

O luto por idade
0 a 2 anos

Até os dois anos a criança percebe a morte como uma ausência, sendo fundamental manter a proximidade com os familiares sobreviventes e que outro cuidador assuma as responsabilidades, no caso de perda de um cuidador próximo, como pais ou avós, sempre mantendo a constância da rotina.

3 a 6 anos

A criança começa a assimilar a morte, mas ainda de uma forma muito fantasiosa. “É importante ter muito cuidado com o uso de metáforas como ‘dormiu para sempre’ ou ‘fez uma longa viagem’, pois podem gerar fobias na hora de dormir ou viajar, além de não contribuir com a assimilação da finitude do evento”, reforça a especialista.

A visão egocêntrica comum nessa faixa etária pode levar a criança a se sentir culpada, adotar comportamentos hostis ou ter regressões de comportamento. Reafirmar constantemente que a criança não teve culpa, acolher e ajudá-la a expressar seus sentimentos fazem parte do suporte que ela precisa e que não só vai curar, mas ajudar a entender o luto. De acordo com a pediatra, expressões artísticas como desenhos, tabelas de sentimentos e álbuns de lembranças são facilitadores desse processo.

9 anos

Por volta dessa idade a criança começa a entender a morte como algo definitivo e irreversível e pode requisitar meios concretos para entender a morte, como participação do funeral. Essa é uma possibilidade que fica sujeita à decisão da família, dos seus valores e da sua religiosidade. Segundo a especialista, é importante que seja uma opção para a criança e não uma imposição. Caso a criança deseje ir, é essencial explicar como vai ser e estar pronto para trazê-la de volta para casa, se ela não quiser ficar.

E como abordar a Covid-19?

Se algum membro da família ou amigo próximo adoecer, é importante tentar incluir a criança no processo desde o começo, para que ela assimile uma cronologia dos acontecimentos. Pais e cuidadores devem estar preparados para responder suas perguntas (que podem ser repetitivas), de forma clara e sem detalhes desnecessários.

“Abra espaço para que ela expresse seus sentimentos (o lúdico é um excelente facilitador) e ajude-a a entender o que está acontecendo”, ensina Dra. Francielle. “Mantenha a criança informada da evolução. Em casos de internações, havendo a possibilidade de uma televisita, pergunte se a criança deseja participar e antecipe para ela o que ela irá ver: estado de saúde, emagrecimento, dispositivos que possam estar conectados ao corpo etc. Assegure-a de que se ela não quiser ver está tudo bem e que você dará notícias”.

Se houver falecimento de um ente querido, a criança deverá ser comunicada assim que possível por um cuidador com quem ela tenha vínculo afetivo e em quem confie. “Essa dolorosa realidade será suportável com o afeto, o amor e o respeito dos familiares.”

Também é importante que o adulto não esconda ou falseie suas próprias emoções. Dessa forma,  a criança vai entender que entrar em contato com sentimentos dolorosos é possível e que as emoções se transformam em lembranças saudosas.

“Uma das homenagens mais lindas, na minha opinião, e que costuma ser bem assimilada por crianças é plantar uma rosa ou outra flor para o ente querido, explicando que ele nunca será esquecido e estará sempre no seu coração”, sugere.

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