Caso Henry: como identificar sinais de que uma criança pode estar sofrendo abusos?

Especialista fala sobre indícios físicos e emocionais manifestados em casos de maus tratos
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caso Henry
Imagem: Canva

Os avanços das investigações sobre o caso Henry Borel têm chocado o Brasil com indícios de que o menino foi assassinado a golpes violentos no interior da residência onde morava com a mãe e o padrasto, principais suspeitos do crime. Morto no dia 8 de março aos 4 anos, Henry já vinha sofrendo uma série de abusos físicos e emocionais apontados pelas autoridades atuantes no caso. O contexto de violência nessa situação traz à tona uma discussão que precisa ser abordada: como os professores e adultos que convivem com crianças podem identificar indícios de abuso?

“Todo episódio ou circunstância de maus tratos causa efeitos comportamentais. Nós adultos, como únicos elementos capazes de livrar a criança deste tipo de situação precisamos estar atentos as alterações de conduta em todos os ambientes sociais”, aponta a psicopedagoga Ana Regina Caminha Braga, especialista em Gestão Escolar e Educação Inclusiva.

Ela explica que a condição de abuso causa medo e insegurança na criança, gerando dificuldade em falar sobre o assunto. Portanto, em geral, elas acabam manifestando de maneira implícita. ”Nesses contextos, o mais importante é observar e conhecer muito bem a criança pela qual se é responsável. É necessário perceber, por exemplo, se repentinamente ela começa apresentar uma agressividade ou sensibilidade fora do normal, se a criança é agitada e passou a ficar muito silenciosa e, até mesmo, se ela apresentou queda no desempenho escolar. Sempre há indicativos de que há algo errado”, alerta a especialista.

Os sinais

De acordo com a psicopedagoga, os sinais mais comuns são: falta de apetite, agressividade, choros fora do normal e não querer ficar sozinho. No caso de crianças maiores, os sinais podem ser: voltar a fazer xixi na cama ou as necessidades nas roupas, pesadelos, passar a roer unhas, apatia, e sintomas físicos ligados a stress e ansiedade, como diarreia, dor de estômago, tontura, náusea, vômito, taquicardia, alergias e dermatites.

“É preciso estar atento se a criança repete muito que não quer ir à escola, ou a casa de alguém, ou estar em determinado lugar. Se não gosta de estar perto de certo adulto, se desvia o olhar dessa pessoa ou se passa a mentir para evitar ir a lugares ou conviver com a pessoa. Crianças são imaturas e têm total confiança nos adultos. Ela busca acolhimento no adulto com o qual se sente segura, e se isso não é ouvido, vai demostrar de outras formas. Crianças replicam exemplos e sentimentos que vivenciam. Se ela passa a morder e beliscar os colegas na escola, pode estar acontecendo algo”, explica.

“Birra” ou pedido de socorro?

Há comportamentos e alterações na conduta infantil que muitas vezes são encarados como “birra” e prontamente repreendidos. Para Ana Regina Caminha Braga, a identificação parte da observação e diálogo. “A birra é uma explosão de sentimentos. Mesmo que a motivação seja banal, é uma forma da criança expressar frustração e descontentamento. Ela usa esse recurso para mostrar que está emocionalmente abalada. A questão aqui é o responsável observar se a ‘birra’ está muito fora do comum ou aparecendo de maneira frequente. Se isso acontecer, é importante conversar com a criança e criar uma abertura para ela contar tudo o que está sentindo”, diz.

Outra atitude bem importante é não duvidar dos sentimentos da criança, do que ela fala ou demonstra. “Precisamos deixar o termo ‘geração mimimi’ de lado. É muito preocupante ver pais e responsáveis dizendo que não se pode falar mais nada e denominando determinadas reações e comportamentos infantis como bobagens, sendo que muitas vezes pode ser um pedido de ajuda que está sendo negligenciado por quem deveria promover a proteção dessa criança”, completa a especialista.

 

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