O pote das felicidades

Por Silvia Regina Angerami
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pote da felicidade
Imagem: Pinterest Criando com Apego

Existe uma controvérsia no mundo dos revisores: existem felicidades ou apenas Felicidade? Existem saudades ou apenas Saudade?

Deixemos essa discussão gramatical para mais tarde. Aqui eu quero falar em felicidades no plural. Eu coleciono felicidades, há pelo menos uns sete anos.

Tudo começou quando vi uma imagem naquele app chamado Pinterest. Era uma imagem de um vidro, como se fosse de conservas, mas em vez de doce de abóbora, ele continha um monte de papeizinhos coloridos. Aquilo chamou minha atenção e então vi que aqueles papeizinhos haviam sido colecionados ao longo de um ano e registravam muitas felicidades. O texto estava em inglês e aconselhava a escrever um bilhete toda vez que sentisse vontade e juntasse tudo nesse vidro por um ano.

Ritual mágico

Eu aperfeiçoei o “combinado” e passei a escrever tudo o que merecia ser relembrado nesses papeizinhos. Na semana entre o Natal e o Ano-Novo, eu sempre cumpro o ritual de abrir o vidro e reler cada uma daquelas felicidades todas. Pode ser um almoço em casa ou uma receita culinária nova que deu certo, um café com uma amiga ou um telefonema em que trocamos confidências e boas risadas, um contrato de trabalho novo, um presente recebido ou dado, ou uma roupa nova, um convite (como este – o de ser colunista deste maravilhoso iMom). Tudo que for bom merece essa lembrança.

Sabe por quê? Porque nós temos a tendência a nos lembrar apenas de duas coisas: ou as maravilhosas (do tipo o nascimento de um filho) ou as chatas e desagradáveis. As pequenas felicidades que pontuam nossos dias e semanas costumam ser esquecidas. Daí, chega o fim do ano, e a gente fica com aquela sensação ruim, de que o ano “velho” já vai tarde. E que o novo ano, esse sim vai nos trazer a Felicidade (aquela no singular e com letra maiúscula). Ledo engano. A nossa felicidade deve ser construída papelzinho a papelzinho. Chega no fim do ano, você agradece por aquele ano bacana e aguarda um mais legal ainda.

Escrita curativa

Depois de um tempo fazendo meus potes e guardando no fundo do armário as minhas “conservas”, fui passar um tempo em Portugal e lá comecei a fazer o meu workshop de escrita curativa. E resolvi compartilhar a prática dos potes das felicidades com as pessoas que participavam do meu workshop. Eu dava vidros de presente às pessoas (digo no passado, porque com a pandemia, os workshops presenciais ainda estão suspensos) e as ensinava a fazer os seus potes. Não sei se todas as que ganharam os potes tiveram a disciplina de escrever papeizinhos todos os dias (sim, todos os dias acontece algo que merece ser lembrado, algo pelo qual temos que agradecer – a Deus, ao Universo, como queira). Mas eu fiz o meu papel, repartindo a possibilidade que cada um de nós tem de colecionar instantes de alegria.

O mais bacana foi que num desses workshops, uma jornalista chamada Tânia se inspirou tanto na ideia do pote, que escreveu uma espécie de “Bula”, como se o pote fosse um medicamento a ser tomado, e deu de presente potes com esse modo de usar aos seus filhos. Foi tão lindo!

E você? O que está esperando? Pega já aquele vidro de palmito ou de molho de tomate e faça o seu. Depois me conta como foi (sangerami@gmail.com) que eu quero saber.

Ah, sim, esqueci de contar que depois de um tempo, consegui me desapegar dos vidros e jogar tudo fora.

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