Só tinha um lugar no mundo em que me sentia totalmente protegida quando era pequena, no colo da minha mãe.
Era para lá que corria me esconder quando o mundo me causava medo.
Tinha medo do bicho papão, da loira do banheiro e das bochechas caídas do Fofão. Além de não entender por que suas mãos eram peludas.
Medos tão bobos, mas tão grandes vestidos por meus olhos de menina.
Podia ver o que me assustava e sair correndo para o colo da minha mãe. Sabia que lá eu estava protegida.
Mas aconteceu que eu cresci e não cabia mais no colo da minha mãe.
Depois virei mãe e me transformei nessa mulher superpoderosa do colo de ferro.
Só não contava com tudo isso que está acontecendo no mundo. Nunca passou pela minha cabeça que iria ter medo de um inimigo invisível e silencioso.
Nem que ele iria levar tanta gente querida de uma só vez.
Não imaginei que iria me encolher a ponto de caber no colo dos meus filhos para encontrar um pingo de paz. Um respiro. Uma esperança.
Eu estou com medo do mundo. Do vírus. Do homem. Do governo. Do ódio gratuito. Da intolerância. Do preconceito. Estou com medo de tudo.
Contando os dias para tomar a segunda dose da vacina. Para ver todos vacinados. Para escutar os noticiários dizendo que esse pesadelo acabou.
Enquanto isso, sigo construindo história e realizando sonhos. Esse mês inaugurei meu ateliê de beleza na cidade que moro aqui na Espanha. Até sai no jornal. Foi uma grande conquista para uma brasileira em outro país. Que mudou o rumo da sua carreira com 38 anos.
Realizei um sonho, mas não pude fazer uma festa de inauguração e nem comemorar do jeito que sonhei um dia.
Sabe por quê? Porque estou sentindo um mar de medo e umas gotinhas de felicidade.