“Quando eu saí da cirurgia de curetagem, eu senti um vazio muito grande na barriga… se eu pudesse me desenhar, eu desenharia um corpo e um buraco na barriga”. Este é o relato de Gáby Sarah, profissional de dança e empreendedora, de 32 anos, que há quatro sofreu um aborto na nona semana de gestação. Ela já era mãe do Luiz Miguel, que veio após dois anos de tratamento para engravidar, mas isso não foi suficiente para que ela superasse a perda.
O psiquiatra e psicoterapeuta, Dr. Nelio Tombini, explica que cada pessoa reage de forma diferente à perda. Tudo vai depender da história de vida dessa pessoa, do momento que ela está vivendo, de como ela engravidou e do suporte que ela tem para enfrentar este momento.
Superação
Gáby, que já tinha tido depressão, começou a entrar em um processo introspectivo, sem vontade de se cuidar. E a virada veio com a ajuda do marido. Ele sugeriu que ela buscasse uma nova atividade, que ajudasse a mudar um pouco a rotina e o foco. Foi aí que ela começou a fazer musculação e encontrou uma nova paixão: o fisiculturismo.
“As indicações científicas falam que o luto pode durar em torno de seis meses. Acima disso já se torna um luto doentio, mas isso não é regra. Ou seja, o importante é o quanto esse luto está impactando a vida. É importante que a pessoa consiga tocar a sua vida e elaborar esse luto”, reforça o especialista.
Para Gáby, encontrar uma nova atividade ajudou no processo de aceitação do que tinha acontecido. “Superar eu não superei até hoje. É uma dor que continua viva, mas já não me gera mais sofrimento. Comecei a aceitar e conviver com tudo o que tinha acontecido”, conta.
A empreendedora hoje consegue entender o quanto os filhos ensinam. Com o filho mais velho, ela aprendeu o que é amor incondicional. “E o meu neném que não nasceu, me ensinou sobre autoestima, sobre mim mesma, sobre não desistir, sobre ir em frente e sobre batalhar. Então hoje eu não carrego mais o sofrimento, mas o aprendizado que ele me passou nessas breves nove semanas de vida”, finaliza.
Sobre o aborto
O aborto acontece quando há perda do feto antes das 22 semanas de gestação ou de um feto com peso inferior a 500g. E o que poucos sabem é que essa fatalidade acomete 20% das mulheres que engravidam. “O aborto espontâneo pode acontecer por diversas causas e, às vezes, a mulher nem sabia que estava grávida. Entre os fatores mais conhecidos, estão: anomalias cromossômicas, trombofilia, trauma, diabetes grave, hipertensão arterial e insuficiência istmocervical”, conta a Dra. Mariana Rosário, ginecologista, obstetra e mastologista.
A médica explica que quem deseja engravidar precisa, antes de qualquer coisa, procurar um ginecologista e obstetra. Um médico atualizado realizará uma avaliação personalizada do casal por meio dos exames necessários e histórico da saúde familiar. Além disso, será preciso criar um cronograma de suplementação vitamínica, para que os tentantes se preparem antes da concepção
“Tanto as mulheres que nunca tiveram filhos, quanto as que já engravidaram e não passaram por problemas, podem apresentar doenças. Por isso, ninguém pode se descuidar. Existe uma rotina de exames e protocolos médicos que deve ser seguida para que o bebê nasça com saúde e a mãe se recupere plenamente”, reforça a especialista.
A médica explica, ainda, que as mulheres que apresentaram problemas anteriormente – como diabetes gestacional, pré-eclâmpsia e trombofilia, por exemplo – devem ser acompanhadas de perto, para que o problema não se repita. E vale lembrar que não é porque uma mulher teve problemas na gestação anterior que isso precisa ocorrer novamente.
Abortos de repetição
Segundo a Dra. Mariana Rosário, existe uma prática médica antiga que indica que apenas após o segundo ou terceiro aborto é que a saúde da mulher deve ser investigada. Ela, no entanto, acredita ser importante investigar os motivos de um aborto desde a primeira ocorrência, principalmente agora que as mulheres estão engravidando mais tarde. Isso porque elas precisam priorizar ainda mais esse tempo de espera para ter uma futura gravidez saudável.