O tempo presente

Por Luciana Santos Tardioli
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Imagem: Canva
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Numa conversa pós-almoço de domingo, refletimos sobre a passagem do tempo. Meus sobrinhos com 16 e 34 anos, os do meu marido, 10, 15 e 20 anos. Meu filho, que outro dia estava quentinho na minha barriga, me chutando para estourar a bolsa e ganhar o mundo, às vésperas de completar cinco anos.

A passagem do tempo dos mais jovens de uma família nos assusta. Parece que por um lapso de momento, nos damos conta de como as coisas são realmente céleres e, se nos aprofundarmos, vamos pincelar uma reflexão sobre nossa finitude (pelo menos a carnal). Se não, “só” vamos nos dar conta de que realmente “o tempo realmente escorre pelas mãos, e não há tempo que volte, amor”. Vale o convite: “vamos viver tudo o que há para viver? Vamos nos permitir?”

Sempre amei essa música do Lulu Santos e como em poucos versos ela nos coloca questionamentos tão profundos.

O que seria “tudo que há para viver” para você? O que você gostaria de se permitir?

A maternidade, em toda a sua beleza, ideação e cobranças também, pode nos cercear bastante. Fato é que não somos mais tão livres. Que quando uma vida depende de nós, as escolhas pesam. Eu sequer dirijo do mesmo modo que dirigia quando era solteira. Não me permito tomar um porre até adormecer (ainda que esteja em casa). Eu busco fazer atividade física não pelo meu próprio ego ou bem-estar, mas porque quero estar saudável para cuidar do meu filho até quando ele precisar de mim e depois alcançar a velhice para vê-lo sendo feliz (assim espero) com as escolhas dele.

A maternidade tem dessas. Mas quando olho para meu filho, penso também que preciso viver o que há para viver por mim também, eu sei. O tempo escorre pelas mãos. E eu tenho urgência, tenho pressa. Sempre tive. 

Quero absorver cada momento e para mim não precisam ser grandes aventuras. A minha grande aventura é a própria jornada. 

O amanhecer e preparar a lancheira da escola. A alegria no meu coração de vê-lo todo confiante e feliz indo para os amigos, as professoras. O retorno falante para contar o que aprendeu. Os desenhos animados que ensinam tantas coisas.

É olhar para seus olhos e me ver, pelo menos um pouco, neles. É saber que lhe proporciono o melhor que posso dentro de minhas limitações (financeiras, emocionais, seja quais forem, todos temos nossos limites), e perceber que eu me proponho a extrapolar os meus limites por ele também. E por mim.

A minha grande aventura é fazer cursos sobre saúde emocional e cada vez entender/ conhecer um pouco mais da vida, do mundo e da alma humana. É tentar desvendar os mistérios da alma com meus olhos curiosos, sedentos por amar cada vez mais a humanidade daqueles que me cercam.

É entender fragilidades, vulnerabilidades e fortalezas. É perceber a complexidade dos seres humanos e de suas relações e entender que o tempo presente é, com a força do clichê, um grande presente mesmo, que não deve ser desperdiçado.

Essa ampliação de consciência me permite, a cada dia, me alegrar com a mágica que é contribuir para o desenvolvimento físico, mental, emocional e espiritual de um ser humano, que é meu filho. E enquanto eu faço essa jornada com ele, eu faço o mesmo comigo. Eu me desenvolvo. Eu me liberto de amarras passadas. Eu curo uma criança muitas vezes triste e assustada que fui um dia. Como é esplêndido ter essa chance!

Espero que você que lê este meu texto realmente se dê conta de que o tempo urge e se esvai. Que sua vida, mesmo com todas essas cobranças que temos, com todos os boletos e outras pressões que bem sabemos…que ainda assim a sua vida seja plena. Que você aproveite a jornada. Que curta cada descoberta do seu filho e entenda o quão importante você é para ele. O quão fundamental é que você viva o presente para que o presente dele seja, de fato, um presente. E não um fardo, uma dor, um trauma que ele carregará quando for adulto.

Aproveite o seu tempo. Que seu trabalho lhe dê prazer e não seja apenas um meio de sobrevivência. Que as pequenas tarefas cotidianas tenham significado para que sua vida não seja só um apanhado de horas, de rotina, de reclamações…

Quando fecho meus olhos e tento resgatar na memória os momentos que vivi com quem já não está comigo neste plano… eu dou ainda mais valor ao tempo. E para honrar o tempo que tenho, eu tento me aprimorar, com amor, respeito e paciência comigo mesma.

Nem sempre é fácil. Mas estou conseguindo, finalmente!!! E foi a maternidade que me trouxe isso.

Veja com amor e doçura todas as oportunidades que a maternidade lhe trouxe para seu auto-aprimoramento. E lembre- se de viver cada pequeno momento com significado e presença. Seu filho é um presente para você. Você é um presente para ele. E o tempo… é o presente de vocês!

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