Empreendedorismo: o olhar materno que gera negócios

Por Camila Fusco
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Imagem: Escola Fadelito
Imagem: Escola Fadelito

Sempre tive certeza que empreender não era para mim. Até que a maternidade mudou minha forma de pensar – e de agir.

Sou filha única e vim de uma família que criou duas fábricas de produtos eletrônicos. Tiveram bastante sucesso nos anos 80, mas com a abertura do mercado e a crescente importação de produtos chineses no início da década de 90, os negócios foram gradualmente minando até sucumbirem. Minha mãe e meu pai atuavam na linha de frente. Desde pequena vi todo esforço dos dois e também os soluços da operação, as perdas e o sofrimento que vieram com o encerramento das atividades. E aí, traumatizei. Entendi que não queria passar por aquilo nunca mais na vida e que provavelmente intra-empreender liderando projetos dentro de uma empresa seria a minha sina.

Mas depois dos meus filhos nascerem, minha visão mudou completamente – e passei a encarar o negócio próprio como uma possibilidade real.  

Foco na solução

Mães são resolvedoras de problemas. Acredito que muitas de vocês irão concordar comigo que, desde que o recém-nascido chega, começamos a procurar solução para tudo que envolve a criança.

Como amamentar, como lidar melhor com a cólica, como aliviar o desconforto do nascer dos dentinhos, como fazê-los dormir. Com o passar do tempo a lista só cresce: onde encontrar comidas saudáveis, roupas funcionais no momento do desfralde, como encontrar a escola que melhor dialogue com nossos valores e atendam às nossas preocupações…

É um mundo totalmente novo e que por mais que nos contassem, só sentimos na pele de verdade quando passamos por isso. Acredito que esse movimento e esse foco no resultado, contribui para identificar oportunidades de mercado que podem gerar novos e inovadores negócios. Da mãe, então, nasce também uma empreendedora.

Parindo um negócio

Não são poucas as mulheres que seguem esse caminho. Um levantamento da Rede Mulher Empreendedora (RME) mostrou que 75% das mulheres que empreendem decidem abrir seu negócio depois de se tornarem mães.

Os motivos são diversos, desde o empreendedorismo por necessidade – daquelas que se encaixam no lamentável fato da demissão pós-licença, ou de quem não tem com quem deixar a criança, por exemplo. Ainda existem aquelas que optaram por esse caminho para ter mais flexibilidade na gestão do tempo casa-trabalho. E, claro, existem aquelas que desenvolveram seus negócios após identificar necessidades específicas e constatar que essas também são dores comuns a outras mães. É muito interessante observar esse movimento!

Gosto muito do exemplo do Empório da Papinha, que desbravou o mercado de papinhas orgânicas após sua criadora, uma professora de educação física que trabalhava em período integral, perceber que a correria para produzir e fornecer uma alimentação saudável para sua filha também era comum em outras famílias.

A lista é extensa. Outro exemplo bastante interessante, na minha opinião, vem de fora, com a Myself Belts. É uma fabricante americana de cintos infantis que substitui o fecho tradicional por velcro, dando autonomia à criança para abrir a roupinha com uma mão só. Para os pequenos especialmente em fase pós-desfralde, quando os escapes são frequentes, são ótimos aliados naquela corridinha ao banheiro. A ideia virou produto após sua fundadora Talia Goldfarb passar justamente por esse processo.

Da ideia à execução 

Como mães, temos um grande laboratório vivo dentro de casa. O despertar do espírito empreendedor pode vir justamente da observação do entorno ou daquilo que já está no mercado, mas pode ser melhorado.

Mas claro que isso não virá sem um plano. Ideia sem planejamento ou ação não sai do papel. No meu caso, passei 13 meses na avaliação das oportunidades, conversando com quem pudesse trazer insumos para a minha decisão e investindo em capacitação profissional. E claro, validando algumas das ideias em campo. E em novembro de 2019, iniciei no ramo de educação infantil.

Gosto muito de algo que minha amiga e mentora, a investidora Camila Farani, diz sobre a necessidade de validação da ideia junto ao mercado. É o gastar sola de sapato. Para iniciar no ramo, tive que ir para a rua, combinando aquilo que eu já via e percebia como mãe, com as oportunidades de ocupar determinado espaço no mercado. A pandemia deu um chacoalhão nos negócios, mas nem assim me fizeram desistir dos planos. O caminho ainda é longo e árduo, mas está valendo muito a pena.

Em novembro, comemora-se o Dia Internacional do Empreendedorismo Feminino. E mais do que uma efeméride – que é o nome que se dá no jornalismo para datas comemorativas e importantes – vale uma verdadeira reflexão. O que nós como empreendedoras, intraempreendedoras e mães podemos agrupar do nosso aprendizado e trazer de novidade – ou soluções – para o mercado? É uma pergunta ampla, mas estou certa de que muito boas ideias virão.

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