Vossos filhos não são vossos filhos

Por Silvia Regina Angerami
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Imagem: Adobe Stock
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Eu sei que iMom é mais dirigido para as mães frescas… rsrs Mas eu quero falar aqui do alto dos meus 62 anos de um aspecto em especial da maternidade que me marcou, que é o momento em que os filhos começam a bater asas em busca de seus próprios caminhos. E é bom você aí, que está com o seu bebê no colo, já ir pensando nisso desde já. Vá se preparando, porque quando acontecer, vai doer menos.

Eu sempre quis ser mãe. Mais do que isso. Sempre tive certeza de que seria mãe. Se eu ia me casar ou não era um mero detalhe. Isso na ingenuidade dos meus 15 anos… Eu queria mesmo era ter uns dez filhos. Mas a vida me deu apenas dois. E duas netas. Portanto, já estou no lucro…

Como é bom ter sempre uma criança por perto! Uma criança alegra todo Natal. Uma criança justifica o fato de ir ao cinema para assistir desenho animado. Uma criança ilumina o seu dia com o riso fácil dela.

Mas (e sempre tem um “mas”…) as crianças crescem e viram adultos. Isso não quer dizer que seja uma perda… ao contrário. De filhos, essas criaturas passam a ser companheiros de jornada neste nosso querido e doido Planeta Terra. E aí, como aconselha Khalil Gibran no seu célebre poema “Vossos filhos não são vossos filhos…” (se não conhece, vale dar um Google e ler o poema completo), a gente precisa arremessá-los, tais como flechas, para que eles atinjam seus objetivos, seus alvos…

E foi assim que a minha filha mais nova partiu rumo a África do Sul. Lá se foi a minha bebê Marjorie (aos 21 anos) mergulhar em um mundo novo, cheio de desafios, de novidades, de aventuras… Deixou o namorado, a casa, a família, o aconchego do carro 100% do tempo à disposição dela para andar de van e de trem em terras africanas. Chorou na separação, mas ela se aventurou. A casa onde ela se hospedou nem telefone tinha, quanto mais Internet! Ela dormia na parte de baixo de um dos dois beliches. Suas companheiras eram do Canadá, Estados Unidos e Austrália, todas com o inglês como língua materna e ela sentiu dificuldade de entender tudo o que elas diziam: “Elas falam muito depressa”!

E a mãe aqui “surtou” com a falta de notícias sobre a chegada dela na Cidade do Cabo. Até o Consulado Brasileiro em Cape Town eu mobilizei. Quando finalmente ela conseguiu se comunicar com a gente, me chamou de “louca”, me mandou apagar posts desesperados no Facebook (obedeci) e conversou com a gente pelo WhatsApp. Voz feliz, animada, cheia de novidades para contar.

Contou que conheceu as criancinhas – ela foi fazer trabalho voluntário. Não era um orfanato, como pensamos de início, mas uma creche. Em um bairro parecido com a nossa “favela”. Ficou na classe das crianças de 2 e 3 anos. Ela ficou lá quase um mês. E eu me enchi de orgulho. Como é bom ver os nossos filhos trilharem o caminho que escolheram! Não tem como explicar – nem a aflição de não ter notícias, nem a felicidade de vê-los crescer e fazer as próprias escolhas.

Eu só tenho mesmo a agradecer. Agradeço por ter sido a “ponte” a permitir a aventura da minha filhinha aqui no Planeta Terra. Agradeço a viagem segura que ela fez. Agradeço a coragem que ela tem de buscar o que quer e acredita. Agradeço pelas respostas que obtive aos meus e-mails desesperados. Agradeço muito a Deus e ao Universo (que para mim são a mesma coisa). Hoje, ela mora em Lisboa e meu coração vibra de alegria por ela e pelo Alê. Agradeço a possibilidade de aprender a ser “Mãe” – desse jeito, com letra maiúscula mesmo. Assim como disse o célebre escritor libanês Gibran Kahlil Gibran (1883 – 1931) em seu inspirado poema.

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