Socorro, meu filho não me obedece

Por Luciana Santos Tardioli
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Imagem: Canva
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Socorro, meu filho não me obedece! Mas…eu quero que ele me obedeça?

Mães e pais enlouquecidos com crianças “desobedientes” não são raros, não é mesmo? Mas ao refletir sobre a questão da Obediência e tudo o que está embutido neste conceito, passei a me questionar se o que espero do meu filho é realmente que ele me obedeça

Vamos lá, vamos fazer um exercício. Vamos refletir sobre nossas relações de trabalho, relações sociais e nossos relacionamentos amorosos. Como desejamos que sejam? De respeito, de troca. Queremos ouvir e sermos ouvidos. Queremos que nossa opinião seja considerada, queremos que o outro coopere conosco.

Agora volte seu olhar para seu filho (a).  Ele/ela aprendeu a obedecer. Não questiona, apenas é “bonzinho”, exemplar e nunca te questiona. Você até recebe elogios: “nossa, nem parece que tem criança em casa!”…

Sua criança cresce. Começam as relações de trabalho. Ele/ela não consegue expressar uma opinião pois aprendeu apenas a obedecer. Não consegue estabelecer uma troca, apenas executar… no relacionamento amoroso, não consegue expressar suas vontades, seus desejos, não consegue se mostrar para não desagradar o outro… Ou, ao contrário. A criança ferida de ontem usa toda a sua dor para criar uma realidade totalmente diferente, finalmente, para poder desobedecer as regras e vai ao extremo oposto. Passa a viver uma vida de exageros e violência com os outros e consigo mesmo.

Evidentemente que não criamos nossos filhos para nenhum dos dois cenários. Desejamos, minimamente, que sejam felizes. Mas a educação tradicional, baseada no conceito de obediência e castigo está tão arraigada em nós que sequer refletimos sobre suas possíveis consequências.

Ouvimos frases como “não morri”, “que exagero”, “fui criado no chinelo e venci na vida”, mas que, no fundo, são auto-defesas. Claro que teria sido melhor uma relação de amor, de troca. Claro que teria sido muito mais feliz se não tivesse passado medo na infância. Como seria melhor ter tido uma relação de respeito com os pais e não de medo

Os adultos de hoje, que compõem essa sociedade tão violenta, cheia de machismo, racismo, preconceitos diversos, são formados por crianças de ontem. Crianças criadas à base do medo. Os pais, na época, ofereceram o que tinham, o que sabiam, o que podiam. Mas hoje, sabemos mais, temos o mundo de informação a nosso dispor, será mesmo que queremos perpetuar tantos desacertos? Não somos capazes de sermos melhores?

Não quero que meu filho me obedeça. Eu quero que meu filho me respeite. E para que ele me respeite e coopere comigo, eu preciso respeitá-lo enquanto pessoa que é. Menor que eu, mais frágil física e emocionalmente que eu, que depende de mim, para guiá-lo por esta vida até que tenha maturidade e condições suficientes para se auto-conduzir.

E você? O que espera da sua relação com sua criança? Cooperação ou obediência? Respeito ou medo? E como você espera que a sua criança seja no futuro? Um sobrevivente da relação que teve com você ou alguém que aprendeu a amar, a respeitar, a cooperar e que, assim, será capaz de ajudar a criar um mundo melhor do que o que habitamos hoje?

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