Filho adolescente com Covid-19 – Desafios e ressignificação

Por Renata Meletti
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Imagem: Canva
Imagem: Canva

Dor de garganta, tosse, dor no corpo… a tal gripe, rinite ou alegria de sempre, hoje pode ter outro nome: Covid-19.

Vacina, torcida, esperança e fé sempre presentes, mas quando o positivo aparece ali, concretamente, a ativação de memórias traumáticas automaticamente ressurgem.

Eu não perdi ninguém próximo, mas assisti muita gente que perdeu. Muitas histórias interrompidas. Me solidarizei. Chorei a perda do outro e chorei por temer também.

Percebi que instauramos um trauma; coletivo.

Em casa, Enrico, meu filho mais velho (12 anos) positivou para Covid-19. Eu, meu marido e minha filha caçula, de 5 anos, não.

Pode parecer maluco o sentimento, mas senti frustração ao estarmos negativos e só ele positivo!

Não queria isolá-lo. Jamais. Não imaginava como seria temer o contato com meu próprio filho, ainda pré adolescente. Mas assim foi feito.

Doeu.

Fez pensar.

Tememos.

Nos preocupamos.

Máscara, álcool, pratos, copos e afins descartáveis. Retirada do lixo feito com “equipamentos de segurança”… e o amor da sua vida, “CONTAMINADO”.

Tem noção o significado emocional disto??

E quando numa fração do dia, em que você leva o lanche da tarde, ele te olha nos olhos e fala com sinceridade: ” mãe, eu só queria te dar um abraço…”

Desleal.

Eu precisava organizar minhas ideias e sentimentos, e então, compartilhar.

Enrico nos surpreendeu com sua responsabilidade e cuidados (pessoal e conosco). Tenho passagens que nunca esquecerei… é louco como esse diagnóstico se faz perturbador.

Ele passou bem. Tinha as duas doses da vacina, mas isso não é garantia. Sabemos!

Dentre esse período de isolamento dele, teve um fim de tarde especialmente lindo, em que fez sol, choveu e o fim de tarde foi daqueles com céu alaranjado. Nossa sala tem metros de janela e a vista alta (11° andar) garante o visual… eu o chamei para sair do quarto, e comigo, contemplar aquele lindo fim de tarde…

Ele questionou se devia. Fui enfática: “coloque máscara e venha!”

Ele veio… chegou na sala e olhou tudo ao redor, antes mesmo de ver o céu lindo… comentou do cheiro da sala da casa dele… mexeu comigo.

Filho, gratidão por você ter passado de forma tão comprometida este isolamento. Você estava “sozinho”, mas nós estávamos “juntos”.

Te amo para o infinito e além.

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