Como é duro ser mãe de adulto!

Por Silvia Regina Angerami
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Imaegm: Pixabay
Imaegm: Pixabay

Muita gente acha que o difícil é ser mãe de bebê. Quando eles nascem, principalmente se for o primeiro, é tudo muito novo pra gente. A mãe nasce também, simultaneamente, e passamos a descobrir muita coisa nova a nosso próprio respeito. Sou uma pessoa paciente? Tenho sangue frio para quando acontece algum acidente com o meu filho? Consigo administrar a rotina sem me irritar muito? Sou cuidadosa, atenciosa, amorosa? Ou me desespero quando algo sai errado, diferente do planejamento? Consigo abrir mão do controle total da minha vida (como era antes)? Como administro a tristeza e, às vezes, a sensação de impotência de não ser mais somente a “filha”, mas a pessoa “responsável” pela vida de outra pessoinha? Me derreto cada vez que meu bebê sorri pra mim, ou consigo aproveitar aquele momentinho só nosso da amamentação?

Sim, a mãe terá respostas, mais ou menos honestas, para todas essas questões, em geral, no primeiro ano de vida do seu bebê. Depois, os desafios e aprendizados se sucedem e a gente sempre procura fazer o nosso melhor nesse novo papel de mãe.

Eu me lembro até hoje da minha sensação quando o Tom, meu filho primogênito, teve a primeira otite da vida dele. Ele chorava sem parar e naquela época o pediatra dele era um médico que estava começando na homeopatia. Cada vez que a gente ligava para ele, ele trocava o remédio. Aquilo me dava uma insegurança absurda porque eu sentia que ele não estava sendo medicado.

No fim, acabamos recorrendo a um pediatra “tradicional” que lhe tascou um antibiótico, que foi ótimo naquela situação. Apaziguou os nossos ânimos e ele ficou bem, os pais ficaram bem, ficou todo mundo bem.

Entenda bem, eu adoro a homeopatia até hoje, mas naquela situação de otite em um bebê de poucos meses, agradeci à medicina tradicional por existirem os antibióticos. E vida que segue…

Mas eu me lembro muito bem daquele momento, enquanto via meu filho sofrendo: “Deus, por que não sou eu a sofrer?? Por favor, me deixa sofrer no lugar dele?” Esse foi o meu primeiro pensamento / sentimento. Claro que é irracional… mas era o que eu queria, de verdade, naquele instante.

Bom, todo esse preâmbulo para chegar onde eu queria chegar nesse texto… Quando o nosso bebê ou a nossa criança estão sofrendo por alguma dessas doenças infantis, a gente parte para a ação. Procuramos o pediatra, o pronto socorro, um diagnóstico, os medicamentos etc. Ou seja, estamos no centro da ação e das decisões a serem tomadas ali. Eu não tenho o menor sangue frio, sou de Humanas. Mas falava assim para os meus filhos, na hora de fazer os curativos: “Pode ficar tranquilo (ou tranquila) que eu sou a melhor enfermeira!” Era mais para me convencer mesmo… (risos)

Se conselho fosse bom…

Mas hoje, sou mãe de dois adultos, de 38 e 29 anos. E avó de duas meninas lindas, uma de quase 2 e a mais velha de quase 15. E estar à margem da ação e da decisão, nos casos de doença, é outro desafio, para o qual eu não estava preparada. Recentemente, meu filho apresentou um problema de saúde que me deixou bem preocupada. Corri para o meu grupo das amigas da faculdade no Whatsapp para pedir um apoio moral. Minhas amigas, na maior boa vontade, indicaram médicos especialistas, deram dicas do tipo “faça isso ou faça aquilo” e só então eu percebi como é duro ser mãe de adulto.

Nesse momento, ao invés de tomar as decisões, você passa àquela desconfortável posição de dar “conselhos”! E eu mesma era uma dessas pessoas que repete aquele famoso ditado: “Se conselho fosse bom, seria vendido e não dado”, sabe?? Então… e lá estava eu a dar conselhos ao meu filho.

É óbvio que meus conselhos entraram por um ouvido e saíram pelo outro e ele fez o que bem entendeu que seria o melhor a fazer. E ainda ficou bravo comigo por eu ter “desabafado” com as minhas amigas. Nem me contou a data dos exames que ele precisava fazer sob o pretexto de “não me preocupar”… E se ele souber que estou aqui a escrever sobre ele, ficará bravo comigo de novo (risos)…

Respostas? Não, eu não tenho mesmo. Aqui do alto dos meus 63 anos, muitos supõem que eu deveria tê-las. É essa sabedoria que talvez se espere das pessoas maduras, ou também chamadas idosas… Mas primeiro não me considero idosa. Outro dia me disseram assim: “eu tenho 63, mas não uso”! E segundo não é só porque vivi mais que tenho todas as respostas.

Então, fica aqui apenas o meu desabafo. Nada fácil ser mãe de adulto, viu?? Mas quero concluir essa questão pelo lado positivo: ao mesmo tempo em que não podemos dar palpite, isso nos dá aquela leveza que todas as avós têm. Podemos simplesmente curtir a parte boa. Então, vamos exercer esse nosso direito, e “apenas” rezar para que todos os problemas (de saúde e outros) de nossos filhos e netos sejam solucionados no tempo em que tiverem de ser. É isso!

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