Amarelinha, pega-pega, esconde-esconde, jogar bola, peteca, estátua e bolinhas de sabão são brincadeiras infantis que tem algo em comum: todas podem ser realizadas ao ar livre, fora de casa. De acordo com uma pesquisa encomendada pela ONG britânica Islington Play Association, adultos que tinham o hábito de se divertir em ambientes abertos quando crianças apresentam melhor saúde mental do que os que brincavam dentro de seus lares. O estudo, realizado com 3 mil famílias, reforçou ainda a importância de os pequenos passarem tempo desfrutando em lugares que possibilitem o contato com a natureza.
O direito de brincar é amplamente debatido na comunidade internacional e reconhecido pela Declaração dos Direitos da Criança (1959) e Convenção dos Direitos da Criança (1989). Essa necessidade foi evidenciada durante a pandemia, quando pesquisadores da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, constataram que crianças entre 3 e 7 anos que brincaram mais ao ar livre nesse período apresentaram menos problemas comportamentais e de saúde mental, entre eles medo e ansiedade. “A natureza ajuda a regular o humor das crianças e estimula um sono de qualidade”, explica Aline De Rosa, especialista em desenvolvimento infantil integrativo.
Com cada vez mais atividades escolares e extracurriculares, convivendo em ambientes pequenos, com acesso às telas e inseridos em uma rotina apressada, o ‘brincar lá fora’ pode representar uma oportunidade para as crianças aprimorarem suas habilidades interpessoais, resolverem conflitos, fortalecerem os vínculos afetivos, construírem sua autoestima e exercitarem a criatividade. “Estamos falando do contato com a natureza viva e não com grama artificial, por exemplo. Esse hábito de estar ao ar livre é primordial para o desenvolvimento saudável de meninos e meninas, ainda mais quando moram em apartamentos e estudam em escolas sem natureza”, completa.
Para Aline, o ato de brincar ao ar livre deve ser incorporado na rotina familiar. A especialista também destaca o que esse hábito pode fazer pelas crianças, confira:
1. Estimula a criatividade: um galho vira varinha mágica, a árvore enorme se torna um dinossauro e a semente comidinha. “Brincando ao ar livre a criança tende a ser mais criativa e colaborativa e aos poucos ela para de chamar o adulto para brincar”, elucida a especialista.
2. Desperta o interessa pela descoberta: a partir da vivência ela sente o desejo genuíno de compreender como algo é feito, funciona ou para que serve. “Além de ser ótimo para lidar com o tédio de brincar com brinquedos prontos, já que os pequenos exploram o espaço com seus sentidos e interiorizam a descoberta e o conhecimento”, ensina.
3. Favorece a construção de habilidades sociais: brincadeiras livres e não dirigidas desenvolvem a conexão social. “As crianças têm que inventar brincadeiras com o que existe no ambiente, interagindo com outras, resolvendo conflitos e isso auxilia aquelas que são introspectivas a olharem para além de si mesmas”, argumenta Aline.
4. Desenvolve a autoconfiança: brincar sem a interferência dos adultos estimula a autonomia para que crianças ganhem confiança em seus próprios corpos. “Elas aprendem que são capazes, pois necessitam da autoridade para serem livres e passam a se desafiar no dia a dia”, orienta.
5. Inspira a contemplação: “além de proporcionar a experiência do belo, o acesso à natureza regula o ritmo biológico dos pequenos e propicia momentos de contemplação e calma”, revela a especialista.
6. Favorece o desenvolvimento infantil integrativo: “o contato com a natureza é importante para o desenvolvimento infantil em todos os seus aspectos: intelectual, emocional, social, espiritual e físico”, reforça.
7. Melhora a alimentação: para a criança ter fome ela precisa gastar energia. “Movimentar seu corpo é a forma mais eficaz de fazer a criança sentar na mesa para comer com fome”, finaliza Aline.