Retorno às aulas e a inclusão

Por Cibele Gandolpho
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aulas
Imagem: Canva

No início de fevereiro, quando o governo anunciou o retorno às aulas presenciais, ouvi de uma pessoa que seria absurdo eu mandar o Breno para a escola porque o risco era absurdamente alto e porque a saúde dele é sensível. Questionou se eu não tinha medo. Bom, vamos lá.

Cada criança atípica é diferente da outra. Não dá pra generalizar. Há condições médicas que variam muito de uma para outra. Dizer que, só porque tal criança é especial, ela não deve ir à escola é um erro desumano e social. Obviamente, há alunos que necessitam ficar isolados porque têm a imunidade baixa ou por qualquer outro motivo. No entanto, há aqueles em que a saúde é de ferro, apesar da condição genética alterada.

A pediatra que o acompanha desde que nasceu pediu todos os exames possíveis e liberou meu filho para ir à escola. Quando a questionei se era arriscado, ouvi um singelo “se bobear, ele está mais seguro na escola do que dentro da sua casa porque você e o pai saem para trabalhar diariamente e têm contato com outras pessoas, mesmo que de máscara”. As escolas estão tomando todos os cuidados possíveis e por lei, mas o risco também está no elevador da nossa casa.

Ainda consultei o endocrinologista, que também disse que a saúde dele estava muito boa e era só tomar os cuidados. Sendo assim, decidi mandar. Algumas mães de outras crianças especiais que conheço, que não vão mandar os filhos para a escola, até me olharam torto. Mas, a decisão por enviar foi baseada no caso do meu filho e não na condição de saúde dos outros ou de uma população específica de pessoas com Síndrome de Down.

A coordenação do colégio já está atenta para rever essa liberação caso haja dificuldade de distanciamento com funcionários e amigos. A minha maior decisão em enviá-lo é a perda que há nas aulas remotas para crianças como ele. É um sofrimento insano tentar mantê-lo interessado pelas aulas e sequer 10 minutos sentado prestando atenção. Meu papel de mãe não serve para ele como professora. Não me enxerga assim e é um tormento toda vez que precisamos entrar na aula remota. Já na escola, é outra criança. Faz as atividades, fica sentado e obedece as professoras. Parece piada!

Enfim, como mãe, tentamos fazer o melhor para nossos filhos e não convém criticar a atitude da outra. Pode não ser boa pra você, mas é boa pra ela. Os prejuízos em mantê-lo em casa por tanto tempo começaram a aparecer no ano passado: falta de foco, irritabilidade, não obedecer, entre outros. O acesso à escola não só promove o desenvolvimento pessoal, mas é uma ferramenta fundamental para se manter relacionamentos interpessoais que constroem a personalidade e o aprendizado da criança. E isso, duvido que haja quem discorde.

 

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