Certa vez, minha cozinha virou o caos. A pia vazava e não sabíamos por onde. Como aquele ano havia começado com reformas, decidimos encarar a pia de frente e dar um basta ao vazamento que já tinha derrubado uma das portas do armário que ficava debaixo da dita cuja.
Foi o Flávio lá em casa. O diagnóstico, segundo ele e também o Ferreira, o zelador do prédio, que sempre dava seus palpites, era que a cuba estava descolando do mármore e que seria preciso colar tudo de novo, senão o prognóstico era terrível: a pia poderia até despencar. O quadro era grave.
Parênteses: você pode estar se perguntando o que essa história tem a ver com o amor. Aparentemente nada. Mas, na verdade, tudo. Namoros viram casamentos, que viram problemas domésticos difíceis de serem solucionados como esse. Se o amor sobreviver a uma pia despencada no meio da cozinha, então poderá sobreviver a tudo. Fecha parênteses.
O Flávio “consertou” a pia. Colou com um produto tão fedido! Argh!
Quando pensávamos que o caso havia sido resolvido… lá vem o pior: o conserto do Flávio não adiantou nada! O vazamento continuava… ping, ping, ping.
Segundo capítulo: bom, daí descobriram que havia uma rachadura na parede que descia pelo mármore da pia. Uma tragédia grega. Resolvemos que era preciso trocar o mármore e manter a cuba de aço.
Daí foi o marceneiro arrancar o armário que fica debaixo da pia. Cheguei em casa do trabalho e era panela espalhada pra tudo quanto é lado, talher perdido na área de serviço, uma visão dos infernos.
Depois foi a vez do Flávio voltar lá pra arrancar a pia da parede. Enquanto isso, fomos até a Leroy Merlin comprar uma torneira nova, para fugir da bagunça: o barulho ecoava pelo prédio inteiro, acredito eu. O pó parecia uma nuvem de fumaça cobrindo tudo.
Resumo: na manhã seguinte, saí de casa em direção ao trabalho dando graças aos Céus por poder ficar longe daquela bagunça, mas sem saber o que encontraria na volta.
E o pior: o clima entre o casal dessa história ficou péssimo. Péssimo, péssimo. Eu fui considerada culpada de todos os males, de todos os pós e de toda a confusão.
O casamento? Embora tenha sobrevivido ao episódio da pia, durou 44 anos, mas acabou, quando tinha que ter acabado. Não foi um vazamento de água na cozinha que deu cabo dele e sim outras histórias tão hilárias quanto, que dariam outra crônica como esta.
Moral da história: na vida tudo passa, tudo é passageiro. Nada é eterno e nem para sempre. Não moro mais naquele apartamento – na verdade, já estou no quinto endereço, desde então.
Gostou da história do pó e da pia? Tem alguma semelhante para me contar? Vou adorar “ouvir”! Fale comigo pelo sangerami@gmail.com.