Bem-vinda à Holanda!

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breno

Muita gente pensa que ser mãe de uma criança especial é um fardo. Seja Down, Patau, autismo, paralisia cerebral… toda notícia chega como uma bomba atômica na cabeça dos pais. E agora? O mundo parece que vai acabar. Não, é apenas o início de uma vida desconhecida, que causa insegurança e medo, algumas vezes, assim como em qualquer mãe, mas nunca infelicidade.

Descobrir-se mãe especial é muito bem resumido no texto da autora Emily Kingsley, que conta como é ter um filho diferente do que chamam de “normal”. Prefiro chamar de atípico.

Quando li pela primeira vez, foi tão tocante que sentei, repensei e me questionei porque estava sofrendo tanto com aquela notícia em 1º de agosto de 2014, um dia após o nascimento do meu filho Breno. Ele nasceu prematuro, com 8 meses. no dia anterior e foi para a UTI para mais cuidados. Então, na manhã seguinte veio a suspeita de que ele poderia ter Síndrome de Down. Não, eu não soube na gravidez! Isso é mais comum do que se imagina. 95% das mães só descobrem no parto pelo simples fato de a Síndrome de Down não trazer sinais físicos evidentes quando o bebê está na barriga. Salvo poucos casos com má formação em órgãos que levam os médicos a suspeitarem que algo não está bem.

Mesmo assim, para ter certeza do que se trata, o exame é invasivo e arriscado a provocar um aborto e a maioria prefere não fazer. Todos os exames do Breno estavam normais. Até o ecocardiograma fetal do coração dele deu ok. Cinco meses depois, ele nascia com uma Comunicação Intraventricular (CIV) bem considerável, que surgiu conforme o coração foi crescendo.

Basicamente, é o popular “sopro”, só que em proporções que permitiam um fluxo de líquido muito grande para o pulmão e causava falta de ar. Só medicamentos podiam drenar o líquido até que o grande buraco fosse fechado.

O texto da Emily conta como é planejar uma viagem para a Itália, mas aterrissar na Holanda.

“Ter um bebê é como planejar uma fabulosa viagem de férias – para a ITÁLIA! Você compra montes de guias e faz planos maravilhosos: o Coliseu, o Davi de Michelângelo, as gôndolas em Veneza. Você pode até aprender algumas frases em italiano. É tudo muito excitante. Após meses de antecipação, finalmente chega o grande dia! Você arruma suas malas e embarca. Algumas horas depois você aterrissa. O piloto diz:

– Bem-vindos à Holanda!

– Holanda!?! – Eu escolhi a Itália! Eu devia ter chegado à Itália. Toda a minha vida eu sonhei em conhecer a Itália!

Mas houve uma mudança no plano de voo. Aterrissaram na Holanda e é já que você deve ficar, a coisa mais importante é que eles não te levaram a um lugar horrível, desagradável, cheio de pestilência, fome e doença. É apenas um lugar diferente.

Logo, você deve sair e comprar novos guias. Deve aprender uma nova linguagem. Você irá encontrar todo um novo grupo de pessoas que nunca encontrou antes.

Após alguns minutos você pode respirar fundo e olhar ao redor, começar a notar que a Holanda tem moinhos de vento, tulipas e até Rembrandts e Van Goghs.

Mas todos que você conhece estão ocupados indo e vindo da Itália, estão sempre comentando sobre o tempo maravilhoso que passam ou tiveram lá. E, por toda a sua vida, você dirá: Sim, era onde eu deveria estar. Era tudo o que eu havia planejado!

E a dor que isso pode causar nunca irá embora, porque a perda desse sonho é extremamente significativa. Porém, se você passar a sua vida toda remoendo o fato de não ter chegado à Itália, nunca estará livre para apreciar as coisas belas e muito especiais sobre a Holanda.” (Emily Kingsley)

Este texto nos ensina a parar, respirar e admirar as tulipas, os moinhos de vento e os Rembrandts que a Holanda pode nos oferecer. Hoje, 6 anos depois de desembarcar na Holanda, sinto cada vez menos estranhamento deste país, que até mudou de nome: Países Baixos.

Toda mulher, ao entrar no mundo da maternidade, compra uma passagem para a Itália, mas  às vezes vai parar em um lugar completamente diferente do que planejou. Ela pode ter encomendado um bilhete que prometia uma menina e nasceram gêmeos meninos.  Comprou uma passagem para um parto normal e aterrissou em uma cesárea de emergência, onde seu filho foi para a UTI e não para o seu colo. Comprou um bilhete que garantia amamentação por meses a fio, mas seu bebê teve que ser amamentado por mamadeira com leite de fórmula desde o dia que nasceu.

Essa Itália idealizada, onde tudo acontece de forma previsível e como nós planejamos pode não existir para algumas pessoas. Você aterrissa em um lugar totalmente novo e único quando seu filho nasce! É único porque é formado de pessoas ímpares e pela sua relação com seu bebê exclusivamente. E está em constante fabricação e evolução, porque você e seu filho traçam novos caminhos todos os dias.

Se você passar muito tempo analisando a grama do vizinho e como ela cresce mais rápido que a sua, perderá um tempo precioso que poderia estar plantando e cultivando flores em seu próprio quintal… naquele país que Deus escolheu para você e sua família viverem, lindo, cheio de flores, pássaros, paisagens belíssimas e que os fará muito felizes.

Nós, mães de crianças especiais, somos obrigadas a desembarcar na Holanda sim, mas isso não quer dizer que estamos aprisionadas lá e precisamos viver para sempre ali, mesmo sendo um lindo lugar. É possível visitar a Itália depois! A Torre de Pisa e o Coliseu podem ficar para depois do parto. Agora é hora de admirar outra paisagem, seja ela de tulipas, gôndolas, pirâmides, castelos, fiordes, outras torres e o que mais surgir.

Dá para viajar de novo depois do temporal. Eu, atualmente, estou na Itália! Estive na Holanda nos primeiros anos do Breno. No primeiro, nem consegui visitar os pontos turísticos, apenas via que o lugar era lindo, mas estava empenhada em corrigir a tal da CIV no coração dele. O sopro imenso não fechou sozinho e levou o meu filho de 5 meses de vida à uma cirurgia arriscada em 15 de janeiro de 2015, o dia que mais sofri na minha vida. Não, não foi descobrir a Síndrome de Down o pior dia. Foi este, que achei que perderia meu grande amor, de cabelos ruivos (outra surpresa!) e que sorria para mim só em me ver e me mostrava como a Holanda era linda.

Graças a Deus foi tudo bem e hoje ele tem um coração perfeito e não toma remédios. Mas, depois disso, as tulipas estavam maravilhosas e os canais, encantadores.

Hoje, na Itália, descobri toda a felicidade de conhecer e sentir esse prazer de ter um filho para me chamar de mãe com tanto amor. Pena que há pessoas que não acreditam nisso e acham que qualquer diferença é um peso para os pais.

Não importa onde você aterrizou, mas sim como você desfrutará da sua caminhada neste mundo novo que é a maternidade, único para cada mulher. Curta o lugar onde você se encontra hoje, porque ser diferente também é normal. Você comprou uma passagem para a classe Econômica, mas ao embarcar, Deus te presenteou com um upgrade para a Primeira Classe! Pode ter certeza que ele escolheu a mãe certa! Tim-tim!!

 

Caso queira entrar em contato, envie um e-mail para cibelegandolpho@gmail.com.

 

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