Bebês e crianças com diferentes tipos de alergia alimentar podem apresentar dificuldade no momento da refeição e na sua relação com os alimentos. Isso pode ser compreendido já que essa população passa pela experiência, algumas crianças muito precocemente, de vivenciar um estresse e/ou desconforto significativo em suas vidas ao serem alimentadas.
As alergias alimentares afetam de 6 a 8% das crianças com menos de 3 anos de idade e são uma resposta anormal do sistema imunológico diante de proteínas presentes em alguns alimentos. Indivíduos geneticamente predispostos reconhecem alguns componentes proteicos como corpos estranhos, o que acarreta a produção de uma série de mediadores inflamatórios (IgE) responsáveis por reações clínicas.
Segundo a Dra. Patrícia Junqueira, fonoaudióloga, fundadora e diretora do Instituto de Desenvolvimento Infantil, especialista em avaliação e reabilitação de bebês e crianças com dificuldades alimentares, a alergia à proteína do leite de vaca é a mais comum em crianças abaixo de 1 ano de idade e, quando não identificada precocemente, pode comprometer não só a saúde e bem-estar do bebê, como também impactar no seu aprendizado alimentar.
Ao ser alimentado, o sistema imunológico do bebê reage de diferentes maneiras para protegê-lo. Essa reação causa uma série de sintomas que podem gerar desconforto como cólicas gastrointestinais, vômitos em jato, alterações cutâneas, mudanças na motilidade gastrointestinal, entre outras. “Todos esses sintomas são manifestados durante ou após a alimentação do bebê, gerando uma forte memória negativa a esse momento.”, explica a especialista.
“A manifestação da alergia alimentar, ainda no primeiro ano de vida, provoca sintomas que podem prejudicar o desenvolvimento alimentar harmonioso, comprometendo o aprendizado. Essas alergias podem ser identificadas e diagnosticadas também durante a introdução alimentar dos bebês”, reforça a Dra. Patrícia. Isso pode gerar um enorme estresse aos pais, além de poder ter como consequência até mesmo um atraso na habilidade para comer, como na mastigação.
Por isso o diagnóstico precoce da alergia alimentar é fundamental para que se possa identificar o desencadeador desses sintomas e, consequentemente, sejam adotadas condutas que possam evitar todos os prejuízos à criança alérgica, que vão muito além da sua alimentação.
Como o Fonoaudiólogo pode ajudar
Além do pediatra e do alergologista, o fonoaudiólogo também pode contribuir com essa população.
– Estabelecendo uma relação de confiança das crianças com os alimentos e com o momento da refeição, criando um ambiente de aprendizagem que promova repetidas experiências positivas para essas crianças;
– Desenvolvimento de habilidades motoras-orais, já que habilidades para sugar, deglutir e mastigar necessitam não só de condições neuro-motoras e sensoriais, como também de estímulo e oportunidades de aprendizagem;
– Auxílio na diminuição da hipersensibilidade oral causada pelo uso de medicamentos, além de náuseas, vômitos e refluxo gastroesofágico, proporcionando uma exploração oral adequada em clima lúdico e emocionalmente seguro que garanta a diminuição gradativa dessa hipersensibilidade;
– Ajuda na redução do estresse orientando a família com estratégias que possam diminuir o estresse no momento da refeição, já que os pais podem se sentir ansiosos e preocupados com a nutrição dos filhos que muitas vezes podem apresentar recusa aos alimentos.
Um outro problema comum dentro das alergias alimentares é a esofagite eosinofílica, uma doença alérgica que pode ser uma das causas de Distúrbio Alimentar Pediátrico (DAP), mas que ainda é pouco conhecida, embora seja cada dia mais frequente. Ela pode causar sintomas semelhantes ao refluxo, disfagia e impactação alimentar.