Comecei o dia revirando gavetas, vendo fotos, relembrando datas e buscando o motivo de ter vindo criar meus filhos na Espanha.
Não foi do dia para a noite que decidimos colocar nossa história em algumas malas, os filhos embaixo dos braços e recomeçar em outro país. Essa decisão foi sendo tomada cada vez que fui a última mãe a buscar o filho na escola, quando cheguei em casa e eles já estavam dormindo, quando não mandei eles fantasiados para a festinha da classe porque não li o recado da agenda…
Nada daquilo fazia sentido. Meus filhos estavam crescendo nos braços das queridas e tão importantes babás que tivemos a sorte de ter. E eu estava trabalhando loucamente, esgotando minha saúde física e mental para pagar contas no fim do mês.
Eu fui fazer terapia, me sentia um fracasso como mãe. Viver numa sociedade com muitas mães machistas e adequar-se ao olhar do outro foi por anos um ato de crueldade comigo mesma. Eu sei que era julgada por minhas faltas, mesmo sabendo que tudo que estava fazendo era por eles.
Hoje meus olhos se enchem de lagrimas cada vez que vou no parque e meu filho me pede para empurrar o balanço e penso em quantos momentos deixei de estar ao lado deles quando precisaram de mim. Continuo enfrentando minhas crises, eu tive que me reinventar para estar aqui. Não foi fácil deixar minha carreira consolidada, o reconhecimento profissional que batalhei anos para conquistar. Mas já não tenho medo de dizer que nem sempre vou dar conta de tudo.
É tão íntimo descobrir quem somos, é transformador escutar o que precisamos. Eu precisava tanto de colo quanto meus filhos. E quando entendi isso, uma revolução começou dentro de mim.
A vida na Europa tem sido uma aventura deliciosa. Nesses últimos dois anos tenho sido mais mãe do que nunca. Ando de mãos dadas com meus filhos na rua, encho eles de beijos e abraços no meio do dia. A gente dança na beira do mar.
Foi muito difícil mudar de vida, fez muito barulho, mas hoje eu tenho certeza que tomei a decisão certa quando me vesti de coragem “bravura de um coração forte” e escolhi estar mais presente na vida deles.
Estamos construindo uma linda história, com momentos inesquecíveis. Sei que eles vão lembrar de mim com muito amor no dia que eu for embora. E isso não tem dinheiro, status, cargo em empresa que pague.