Todos nós, de tempos em tempos, passamos por revezes na vida. Um grande amor que se desfaz. Uma oportunidade de trabalho perdida. Uma amizade que se dissolveu. Alguém que partiu para outro plano. Algo em nós se quebra, pois esta é a ciranda da vida: “o anel que tu me deste, era vidro e se quebrou e o amor que tu me tinhas, era pouco e se acabou”.
Muitas vezes que algo se quebra, tentamos consertar. Choramos como crianças, incapazes de distinguir o que é passível de ser consertado e o que devemos deixar ir. Impossível reconectar cacos de vidro estilhaçados.
Seguimos a trajetória com aquele amargor no coração, não é mesmo? Seja quando tentamos fingir que nada aconteceu, seja quando permanecemos na situação com as feridas abertas, mas com curativos nelas, seja quando nos damos conta de que não há recuperação viável, só mesmo o “partir para a próxima”, permitindo que a roda da vida siga seu curso.
A vida é uma ciranda. E creio que nunca fomos preparados para ela, de fato. Via de regra, não conseguimos aceitar o seu fluxo e o apego demasiado a um tempo impermanente nos faz sofrer além do necessário. Talvez a grande lição seja tomar um fôlego e olhar de frente para os olhos do momento e se perguntar de forma honesta: o que vai ser agora? O que devo aprender com isso? Quais são os meus recursos para permanecer ou partir?
Por diversas vezes, quando a dor bate à porta, corremos para o anestesiamento. Bebidas, festas, não falar sobre comer um doce, alguma fuga. Será que é isso que a ciranda da vida espera de nós? E se deixássemos simplesmente a dor doer e quando ela passar, encararmos, mais fortalecidos, a próxima fase?
Quando somos mães e pais, diversas vezes desejamos amortecer a dor de nossos pequenos. Queremos evitar seus dissabores. Queremos passar pela dor no lugar deles. Mas fato é que desde cedo eles terão que lidar com a ciranda da vida. O brinquedo que se quebra. A ida à escola. A mudança de escola. A mudança de casa. A perda de um pet ou ente querido. O amiguinho que muda para longe e assim por diante.
A todo momento a vida nos mostra sua grande lição da impermanência e a nós só nos cabe viver cada passagem da ciranda com amor e respeito, absorvendo ao máximo o que nos foi dado aprender.
“Por isso, dona Rosa
Entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito
Diga adeus e vá se embora”
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