Duro, flexível ou empático: qual o tom da conversa com o seu filho?

Por Camila Fusco
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Imagem: Canva
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São incontáveis as vezes que nos deparamos, como pais, com situação de negociação com os nossos pequenos. O tipo de roupa, o que comer, se pode ou não assistir TV, usar o tablet… São pequenos momentos diários que podem se estender por horas de argumentação – quem nunca? – e que demandam energia, foco e muito jogo de cintura.

Mas afinal, qual tende a ser o seu comportamento em situações de negociação com as crianças, especialmente diante de regras ou combinados estabelecidos dentro de casa? O tipo de comunicação com os filhos foi um dos temas do 1º Congresso Internacional de Educação Parental, Parenting Brasil, que aconteceu no fim da semana passada, em São Paulo.

Os especialistas Rayalla Andrade, psicóloga e facilitadora de Comunicação Não-Violenta, e Rodrigo Lolato, líder de desenvolvimento, reforçam a importância de dar contexto a uma decisão no momento de conversar com os filhos, assim como a necessidade de demonstrar interesse em escutar os sentimentos da criança.

Durante o seminário, os especialistas trouxeram três situações hipotéticas, mas bastante vividas por milhares de famílias todos os dias: as negociações sobre os combinados. A situação ilustrada mostrava uma criança pedindo para assistir TV fora do dia e horário combinado, tentando negociar uma brecha com os pais.

Na primeira situação, apesar de ser contra a quebra da regra, o pai cede após algumas tentativas mais emocionadas e promessas trazidas pela criança de que não irá mais pedir pela TV fora do dia e horário combinado. Para Lolato, essa é uma violência invisível, e é o típico exemplo de engolir sapo que não faz bem aos pais.

“O silêncio também é violento para a relação. Por mais que a criança tenha saído feliz, isso tem um custo que se acumula com o tempo. Se calar nesse caso é prejudicial”, diz Rayalla.

Por outro lado, o “não é não”, sem contexto ou escuta é o típico exemplo de comunicação violenta que tem efeito imediatista e acaba por gerar tensão, frustração e ainda mais desgaste. Na segunda situação simulada, o pai é direto ao negar a TV fora do horário e, sem querer ouvir muito e sem estender o assunto, recorre estritamente à regra sem nem ouvir o argumento da criança.

“Nesse cenário, eu não abro mão do que é importante para mim, mas não olho para a necessidade da criança. São muito os fatores que nos fazem, como pais, sermos assim às vezes. Um exemplo é a pressão do tempo, quando quero resolver rápido a situação e nem penso. É visível que isso tem um custo, a criança fica frustrada, eu não dou chance para escutar como ela se sente”, afirma o especialista.

O terceiro exemplo é o meio termo ideal. Na conversa fictícia, em que a criança pede para ver TV fora do combinado, o pai encontra espaço – e tempo – para dar contexto e espaço para dizer o que sente. “Todas as vezes que você me pede isso, eu fico aflito e te explico porque. Zelo pela quantidade de horas que você fica exposta a telas porque não são estímulos que fazem tão bem, por isso existe nosso combinado”, começa explicando o  pai fictício.

A pressão continua com um “só hoje, e um prometo que não vou pedir mais fora de horário”, e o pai pede para a criança explicar o motivo pelo qual essa experiência é importante para ela naquele momento. Após a reflexão, o pai autoriza por um período determinado de tempo e deixa claro que precisarão repensar os combinados caso a criança volte a sugerir quebrar a rotina novamente. “Esse diálogo traz empatia e autenticidade e leva a essência da não violência: como cuido de mim e da necessidade do outro”, afirma Rayalla.

A recomendação dos especialistas é para que os pais comecem a trabalhar o equilíbrio entre suas necessidades e da criança nas conversas. “Nossa fala já deve vir imbuída de amor, com a intenção de explicar. Os resultados vão sendo colhidos com o passar do tempo. O que mais dificulta é quando não estamos firmes no nosso propósito”, destaca Rodrigo. Sem o propósito firme, argumentar se torna mais difícil.

Sobre os combinados, as regrinhas estabelecidas em casa, os especialistas apontam o caráter pedagógico. “Os combinados pressupõem colaboração entre as partes, enquanto as punições não demonstram conexão, não demonstram vínculo e nem aprendizado”, conclui.

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