Pesquisa inédita aponta aumento de crianças expostas às telas durante a pandemia

Levantamento mostra como o isolamento mudou os hábitos de adultos e crianças
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Imagem: Canva
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Os estímulos são elementos fundamentais no desenvolvimento na primeira infância e são fortalecidos pela existência de boas interações entre a criança e os adultos de referência. Em um momento tão delicado quanto o da pandemia, contudo, esses fatores podem ter sido comprometidos.

 

Para entender o impacto do período de isolamento social dentro dos núcleos familiares e nas relações dos cuidadores com as crianças pequenas no período de março a dezembro de 2020, a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal acaba de finalizar a pesquisa Primeiríssima Infância – Interações na Pandemia: Comportamentos de pais e cuidadores de crianças de 0 a 3 anos em tempos de Covid-19.

 

Elaborado com consultoria da Kantar Ibope Media, o estudo é um desdobramento da Primeiríssima infância – Interações: comportamentos de pais e cuidadores de crianças de 0 a 3 anos, estudo que trouxe análise anterior à pandemia, lançado em 2020.

 

Entre os dados do novo estudo, chama atenção a alta exposição às telas a que as crianças foram submetidas durante a pandemia. O levantamento mostra que o uso de celulares e tablets em todas as classes sociais ficava em 15% para crianças de 0 a 3 anos e saltou para cerca de 59% durante os meses de isolamento.

 

“Isso é um ponto de atenção. As telas representam uma distração passiva, que, em excesso, pode ser prejudicial para o desenvolvimento da criança. Pensando nisso, é fundamental considerar a idade, o tempo de exposição e ter sempre um adulto acompanhando para não haver prejuízo nessa fase.”, avalia Paula Perim, diretora de Comunicação da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.

 

Perim lembra que a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda que se evite a exposição a telas para crianças com menos de 2 anos e que se limite o chamado “tempo de tela” a no máximo uma hora por dia para crianças entre 2 e 5 anos. “Alta exposição a telas na primeira infância pode provocar ainda enxaqueca, hiperatividade, alteração do sono, entre outros”.

 

Primeiríssima Infância – Interações na Pandemia também indica que 51% das crianças estão fazendo atividades sozinhas. Dentro desse recorte, 32% brincam com seus próprios brinquedos e 19% assistem sozinhas a filmes e desenhos na televisão.

 

Em um comparativo por classe, as crianças da classe D são as que passam mais tempo sozinhas, seja brincando ou assistindo TV (64% na classe D, enquanto nas outras classes varia de 47% a 51%). Além disso, elas são as que brincam menos com os adultos (13% na classe D contra 26% a 33% em outras classes). “Uma das hipóteses para que isso aconteça é o fato de que os adultos estão mais atarefados, principalmente na classe D, na qual há uma sobrecarga pelo acúmulo de funções”, pondera Perim.

 

Realizada em março de 2021, a pesquisa contou com a participação das famílias das classes sociais A, B, C e D, que convivem e são responsáveis por crianças de 0 a 3 anos. Ao todo, 1036 pessoas participaram das entrevistas, feitas majoritariamente com o uso de uma plataforma. As entrevistas com pessoas das classes A, B e C foram auto-preenchidas online, por meio de computador, tablet ou smartphone. As entrevistas com pessoas da classe D aconteceram em modo presencial, de forma a garantir a participação deste segmento populacional, de menor acesso aos suportes eletrônicos escolhidos.

 

Alguns destaques mencionados sobre o estudo:
• Em todas as classes sociais, o percentual de crianças que brincam com os adultos é maior do que com outras crianças. As atividades realizadas sozinha correspondem por 51% da amostra, sendo que 32% brincam sozinhas com seus próprios brinquedos e 19% assistem sozinhas desenhos e filmes na televisão. As brincadeiras com adultos alcançam 26% e brincadeira com outras crianças, 22%. A hipótese para isso é o isolamento imposto pela pandemia.

 

• Em relação a antes da pandemia, houve aumento de todos os tipos de brinquedos e/ou atividades lúdicas de brincar. As famílias relatam aumento de brinquedos comprados, que permanecem como primeira opção de brincadeira antes e depois da pandemia. Há um crescimento importante de brinquedos caseiros, objetos e utensílios domésticos para entreter as crianças.

 

• A principal diferença entre as classes sociais é o maior índice de atividades manuais na classe A/B (82%) em oposição à classe D (58%). Além disso, é maior a interação dos cuidadores com maior escolaridade em brincadeiras que envolvem objetos domésticos e atividades manuais, do que cuidadores com menor escolaridade. A diferença entre as classes nesse tipo de brincadeira é de 15 pontos percentuais em relação a objetos domésticos e de 19 para atividades manuais. Uma hipótese é a falta de tempo destas famílias e também falta de instrução para desenvolver esse tipo de brincadeira.

 

• O uso de celulares e tablets em todas as classes sociais ficava em 15% para crianças de 0 a 3 anos e saltou para cerca de 59% durante os meses de isolamento.

 

• As crianças da classe D são as que 1) passam mais tempo assistindo TV (25%), enquanto as crianças das outras classes variam de 15% a 19%; 2) brincam e assistem TV sozinhas (64%) x variação de 47% a 51% nas outras classes; 3) brincam menos com os adultos (13%), contra 26% a 33% nas outras classes.

 

• A pesquisa feita depois da pandemia mostra que a percepção das famílias sobre a importância das interações entre as crianças cresceu e a relação delas com os adultos permanece relevante. (Ver gráfico desenvolvimento – formas de aprendizado mais importantes).

 

• As relações pessoais e a convivência com os familiares se firmam como a maior fonte de inspiração e conhecimento. No entanto, antes da pandemia, com o distanciamento social e a falta de experiência prévia com situações similares, as matérias na internet e os canais de YouTube se destacaram como espaços de busca de informações sobre cuidados. Com o desenrolar da pandemia, esses canais perderam espaço para as relações pessoais, assim como órgãos oficiais, grupos de mães, TVs, creche/escola, igrejas, grupos de mães nas redes sociais, médicos e amigos. (Ver gráfico “onde os cuidadores aprendem sobre estímulo”).

 

• Os adultos realizam várias atividades de entretenimento da criança em todas as classes sociais. Uma diferença que se destaca é quanto à atividade de ler para os pequenos. Enquanto a contação de histórias está presente em 90% das famílias de classe A/B, nas de classe D esse percentual é de 68%. As hipóteses possíveis para essa diferença são a falta de tempo para realizar a atividade, falta de hábito da leitura em geral, de acesso a livros, ou ainda a escolaridade dos cuidadores.

 

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